Atualização semestral pode elevar fretes em até 3,55% e garante recomposição mínima dos custos operacionais
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) aprovou, na última quinta-feira (17), o reajuste semestral da tabela de pisos mínimos do frete rodoviário. O novo cálculo tem como base a variação acumulada do IPCA — de 3,28% entre dezembro de 2024 e maio de 2025 — e o preço médio do diesel S10, que está em R$ 6,02 por litro, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).
A medida, prevista na Lei 13.703/2018 e regulamentada pela Resolução ANTT nº 5.867/2020, atualiza os coeficientes de cálculo do frete sem alterar a estrutura da tabela. Os reajustes médios variam entre 0,82% e 3,55%, dependendo do tipo de carga e do número de eixos do veículo.
A nova tabela deve ser publicada ainda em julho no Diário Oficial da União, passando a valer logo em seguida.
Impactos diretos no transporte
De acordo com análise técnica do Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC), as operações de carga lotação (Tabela A) tiveram aumento de até 5,85% nos coeficientes de deslocamento. Já os fretes para transporte de produtos perigosos, que exigem operações específicas e alto nível de segurança, registraram alta de até 8,87%, sobretudo em composições de cinco e seis eixos.
Na outra ponta, operações de alto desempenho (Tabela D), que envolvem apenas o aluguel do veículo sem motorista, apresentaram reajustes mais modestos, com variação média de 1,36%.
Para transportadores autônomos e empresas de pequeno porte, o reajuste representa um alívio no orçamento e um instrumento importante de correção frente à inflação e à oscilação do preço dos combustíveis.
Pressão sobre embarcadores
A atualização da tabela tende a provocar impacto também entre embarcadores, especialmente em setores como agronegócio, comércio e indústria. Com a elevação dos pisos mínimos, empresas contratantes de frete devem reajustar orçamentos e renegociar contratos com transportadoras.
Na avaliação do setor, o efeito é inevitável, mas previsível. “O reajuste acontece duas vezes por ano e é fundamental para manter a sustentabilidade da operação. O embarcador que planeja corretamente já espera essa atualização”, explica Ricardo Terra, diretor de operações de uma transportadora em São Paulo.
Reflexos no mercado e no consumidor
Especialistas alertam que os efeitos do reajuste da tabela podem ser sentidos também no consumidor final, sobretudo em produtos com longa cadeia logística. O aumento nos custos de transporte pode ser repassado ao varejo, ainda que de forma gradual e moderada.
O cenário, no entanto, é menos pressionado do que em anos anteriores, devido à estabilidade relativa do preço do diesel nos últimos meses e à inflação sob controle.
ANTT avança em agenda ESG
Durante a mesma reunião em que aprovou o reajuste, a ANTT também deu sinal verde para o relatório do projeto “ESG Cargas”, que propõe a criação de um selo de boas práticas ambientais, sociais e de governança para transportadores rodoviários. A iniciativa busca incentivar modelos de operação mais sustentáveis e deverá seguir para consulta pública ainda neste semestre.
Fôlego necessário
A atualização da tabela de frete, embora modesta em termos percentuais, reforça a importância de um marco regulatório que assegure condições mínimas de viabilidade econômica para o transporte rodoviário. Em um setor altamente sensível a variações de custos, especialmente o diesel, garantir reajustes periódicos é vital para a sobrevivência dos pequenos operadores e para o equilíbrio da cadeia logística nacional.


